Em setembro com a conclusão das obras de reforma da Praça Dom Pedro II, a mais antiga de Belém, será possível fazer um resgate histórico da Cidade das Mangueiras através de um bucólico passeio por cinco das principais praças do centro histórico de Belém,percebendo a importância de se preservar esses patrimônios.
Afinal, o patrimônio histórico de um povo conta muito sobre sua história, tradições e cultura, porque é parte da sua identidade. Por isso, a Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb), através da diretoria de Planejamento Urbano, destaca a importância da educação para construir na população um sólido conhecimento sobre a importância de se preservar o patrimônio comum de uma cidade.
“Preservar é defender, conservar e resguardar. É ter atitudes de cuidado e respeito. É compreender que o bem público é de responsabilidade de todos nós. E quando se trata de um patrimônio histórico essa responsabilidade é maior, para transmitir às gerações futuras a história daquela localidade. A destruição dos bens herdados das gerações passadas acarreta o rompimento da corrente do conhecimento de uma época específica, ou seja, deixa toda a sociedade mais empobrecida. Daí a importância da preservação”, explica o diretor de Planejamento Urbano da Seurb, João Batista Marçal, o Joba.
Uma breve viagem pela história de Belém através de suas praças:
Praça D. Pedro II – A sugestão é que, a partir de setembro (quando o espaço será devolvido para a população totalmente restaurado) essa viagem comece pela primeira praça construída na cidade, a Dom Pedro II , que data de 1772. Nesse logradouro foram plantadas as primeiras mangueiras de Belém.
Urbanizada no início do século XX, na administração do Intendente Antônio Lemos, a Praça D. Pedro II faz parte do conjunto arquitetônico do centro histórico de Belém. O paisagismo, com caminhos internos sinuosos, remete ao modelo de jardim inglês, contrastando com a exuberante flora amazônica. Já o calçamento localizado ao redor do monumento central, em homenagem ao General Gurjão, assim como ao redor da praça, é todo feito com mosaicos de pedras portuguesas. Além do monumento central, a praça guarda ainda o marco balizador luso-hispânico, os monumentos em homenagem ao marinheiro brasileiro e ao soldado brasileiro, e ainda a charmosa edificação da Casa da Guarda. Para completar tem o laguinho com deck que, junto às árvores frondosas, garante um oásis de clima ameno no centro de Belém.
Praça do Relógio – Ali pertinho, atravessando a Rua Padre Champagnat, fica outro patrimônio histórico que é a cara de Belém. A Praça do Relógio, que na verdade chama-se Praça Siqueira Mendes e está localizada no coração da cidade e entorno do mercado do Ver-o- Peso. Foi Inaugurada em 5 de Outubro de 1931. Nessa praça encontra-se o relógio que dá nome ao espaço e quatro postes, ambos de ferro e com características do final do século XIX, todos importados da Europa.
Praça do Carmo – Está localizada em um dos bairros mais antigos de Belém, a Cidade Velha , onde se encontra a Igreja do Carmo, patrimônio em estilo barroco do século XVIII. Considerando-se o contexto histórico, nessa praça se destaca uma demarcação no piso, referente ao sítio arqueológico pertencente à antiga Igreja do Rosário dos Homens Brancos. Faz parte ainda do projeto arquitetônico, um anfiteatro que foi implantado em uma reforma mais recente, servindo de palco para inúmeros eventos culturais.
Praça Visconde do Rio Branco – A praça leva esse nome em homenagem ao estadista e responsável pela consolidação das fronteiras do país, porém é mais conhecida como Praça das Mercês em referência à igreja do mesmo nome. No século passado, o espaço foi palco de uma feira popular, cerimônias e celebrações religiosas. A Praça das Mercês, hoje totalmente restaurada, foi testemunha de importantes lutas do movimento cabano, revolta popular que combateu os ditames do império brasileiro e a influência portuguesa na região.
Praça Batista Campos – A Praça Batista Campos foi inaugurada em 1904, ainda na administração do Intendente Antonio Lemos. Com paisagismo de espécies variadas, todo inspirado em jardins ingleses, muito utilizados nas praças de Belém a partir da segunda metade do século XIX, a Praça possui ainda belos monumentos e equipamentos como córregos, pontes, espaços para contemplação da natureza, bancos de madeira e coretos de ferro importados da Alemanha.
Bem preservada, a Praça Batista Campos é um exemplo de como a sociedade pode contribuir para o cuidado da preservação do patrimônio público. Há mais de duas décadas foi criada a Associação dos Amigos da Praça Batista Campos, formada por frequentadores do local, para ajudar a cuidar e a preservar a história da Praça, que inclusive foi registrada em um livro , de autoria do presidente da Associação, José Olimpio Bastos. “Esse livro foi uma forma que encontramos de homenagear a Praça e aqueles que sempre buscaram mantê-la linda e bem cuidada, além de servir de exemplo para as futuras gerações. Nós acreditamos que a responsabilidade de cuidar e de preservar o patrimônio da cidade não é só da Prefeitura, é também de cada cidadão. Temos que trabalhar juntos pelo bem de todos”, reforça o autor.
Para a professora aposentada de educação física, Kátia Cunha,70, moradora do bairro e frequentadora assídua da Praça Batista Campos, onde mantém sua disciplina de exercícios físicos diários, a preservação das praças históricas de Belém, assim como de todo o seu patrimônio, é fundamental. Porém, ela sente que é fundamental um trabalho de sensibilização e educação do povo de Belém. “Eu fico muito triste, vejo que não adianta a prefeitura cuidar e reformar, se no dia seguinte a gente chega e vê muito lixo pelo chão e até pichações numa praça linda como essa nossa da Batista Campos. É muito triste.Só uma poderosa campanha de educação patrimonial e ambiental poderá começar a mudar essa realidade”, propõe a professora.
A dona de casa Márcia Barbosa,moradora do Bairro do Guamá, diz que acredita nas novas gerações para manter viva a história através da preservação de espaços como a praça. “Eu amo essa praça eu vinha aqui quando criança brincar, depois trouxe os meus filhos e hoje trago o meu neto Victor Kaique que adora se divertir nos brinquedos, ver as garças e os peixes, deu até nome pra os pirarucus do lago. Por isso eu acho muito importante preservar e ensino isso pra eles”, afirma.
Preservação e futuro
Segundo a arquiteta Débora Leite, da Divisão de Patrimônio Histórico da Seurb, fazer a ligação entre as praças e seus monumentos com a sociedade, não é uma tarefa fácil, mas é fundamental. “A importância do sentimento de pertencimento pela população, é fundamental para que a sociedade se reconheça nesses nos próprios bens históricos. Apropriar-se de sua cultura é fundamental para que os belenenses assumam o papel de salvaguardar e cuidar da herança de seu povo”.
Preservar a história de Belém através das suas praças e investir numa relação de proximidade com a população é, segundo o secretário municipal de Urbanismo, Deivison Alves, uma das missões da Seurb. “Belém possui uma memória muito rica em suas praças, que trazem em cada espaço sua própria história, características e condições para produzir uma relação social que passa a contribuir e dar sentido à vida urbana. Preservá-las é fundamental”, destacou.
Por isso a Seurb pretende investir cada vez mais nessa relação de proximidade com a população, ouvindo e dando voz aqueles que amam e ajudam a cuidar da cidade. “Belém possui uma memória muito rica em suas praças, que trazem em cada espaço sua própria história, características e condições para produzir sua relação social, que passa a contribuir e dar sentido a vida Urbana”, conclui Deivison Alves.
Em caso de vandalismo ou furtos a população pode acionar a Guarda Municipal de Belém pelo telefone 153.
Texto: Cristina Nascimento